Inconformado com longo descaso em relação a liberdade de software e privacidade, tanto por parte da instituição educacional para a qual trabalho quanto, mais lamentavelmente ainda, do sindicato que representa minha categoria profissional, algo do qual sou fundador, participei da coordenação por um longo período e tenho apoiado praticamente de forma integral, acabo de tomar uma primeira atitude de me recusar formalmente a participar de algo que contraria meus princípios em relação a essa matéria. É o que venho relatar à comunidade.
Em suma, declinei convite do sindicato para responder a uma pesquisa por meio de formulário em famigerado sistema de controle de documentos de Big Tech.
Não se trata de uma recusa vazia. Já tinha mostrado a atuais coordenadores sindicais, em comitês formados durante longa greve ocorrida no primeiro semestre, ferramentas de software livre para realizar, senão todas, as principais tarefas digitais do movimento. Tentei explicar por inúmeras vezes os problemas decorrentes de software privativo, como contorná-los utilizando software livre e como os ideais deste convergem com a organização dos trabalhadores. Logo no início do movimento paredista, houve a promessa de reserva de data para introduzir o assunto ao coletivo, coordenação sindical e base, como um evento da greve. Esta se encerrou após mais de 100 dias sem a concretização dessa oportunidade. Tampouco nos meses passados desde então. As ferramentas que os convenci a usar naquele período, notadamente Jitsi Meet e CryptPad, também foram definitivamente abandonadas em favor das soluções privativas de costume.
Segui exemplo do artigo “Dizer não à computação injusta mesmo uma vez é ajudar” (Stallman, 2020) e ainda fui inspirado por relatos recentes, dentre os quais a omissão, por editores de jornal partidário, de artigo de @vereda que também recomendo atenta leitura.
Transcrevo abaixo da captura de tela a mensagem de correio eletrônico em questão, na esperança de que eventualmente também possa contribuir com a inspiração de mais pessoas.
From: (parte de endereço censurado).edu.br>
To: SIND(parte de endereço censurado).edu.br>
Bcc: (parte censurada)
Subject: Re: Pesquisa sobre (parte censurada)
Caríssimos colegas,
Obrigado pelo convite a participar, porém, “Google Forms/Docs/etc.” é um programa que nega a liberdade e notoriamente bisbilhota seus usuários como parte de seu modelo de negócio. Por razões ético-filosóficas, não contem comigo desta vez. Desejo um tipo diferente de mundo e, ao declinar o uso de software privativo de liberdade, estou dando um passo em direção a esse mundo.
[ Mensagem inspirada por https://www.gnu.org/philosophy/saying-no-even-once.pt-br.html ]
At.te,
(trecho censurado)
On 01/10/2024 13:43, SIND
(censurado)
wrote:Prezados (as) Servidores (as) e Estudante
(censurado)
Convidamos toda a Comunidade Acadêmica
(censurado)
a contribuírem [sic] com a pesquisa sobre(trecho censurado)
demanda histórica que já é implementada [em] diversas Instituições Federais de Ensino Superior.
(parágrafo censurado)
Os resultados desta pesquisa serão incorporados à Proposta
(censurado)
<https://drive.google.com/file/d/ (censurado) /view?usp=sharing>
entregue ao Reitor em(censurado)
2024.Sua participação é essencial para evidenciar
(trecho censurado)
.Participe da consulta através do formulário que pode ser acessado no link: Consulta Pública sobre
(trecho censurado)
<https://forms.gle/(censurado)>
O formulário ficará disponível até o dia
(censurado)
Mais recomendações
- Vereda. Cryptorave: tecnologia e política são indissociáveis
- Free Software Foundation. Software livre e educação: como o software livre está relacionado à educação?
- Free Software Foundation. Por que instituições educacionais devem usar e ensinar Software Livre
Prezados(as) colegas:
Agradeço pela mensagem e gostaria de aproveitar a oferta, porém, já sabem, por manifestações anteriores, que "Google Forms/Docs/etc.’ é um programa que nega a liberdade e notoriamente devassa seus usuários como parte de seu modelo de negócio. Lamento ver que não é oferecida maneira de participar dessas campanhas sem que os usuários de computador abram mão de sua liberdade. Não faltam maneiras de propiciar isso. Portanto, enquanto essa prática não for revista, não contem comigo. A propósito, quando até mesmo as organizações sindicais obrigam seus filiados a utilizar esse tipo de software injusto para exercer seus direitos, acompanhando de perto a nefasta insistência dos órgãos patronais sobre o assunto, permanece infringindo princípios fundantes da própria entidade (Estatuto do
[Censurado]
, art. 3º) e inclusive fortalece alienação e opressão dos trabalhadores por parte do Capital. Desejo um tipo diferente de mundo e, ao declinar o uso de software privativo de liberdade, tento dar um passo em direção a esse mundo. Sigo, ainda, à disposição para ajudar a encontrar o caminho, estendendo-lhes o convite para engrossar a resistência à computação não-livre.Inspirações:
At.te,
[Censurado]
On 06/11/2024 11:53,
[Censurado]
wrote: